Mostrar mensagens com a etiqueta antónio josé forte. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta antónio josé forte. Mostrar todas as mensagens

16 maio 2023

antónio josé forte / declaração

 


 

Eu de barba branca a tiracolo
rodeado de fumo por todos os lados vadios
menos pelo lado do mar
com um incêndio à ilharga
e dois artelhos clandestinos
eu salvo miraculosamente para te amar e curar
e esperar o teu regresso glacial e escarlate
que escrevo poemas desde que um rato
me entrou prós pulmões e só por causa disso
eu que disse: há um cancro no mapa universal
e engenheiros, geógrafos, doutores se apressaram a negá-lo
eu da cintura pra cima de alcatrão e terror
e do umbigo para baixo de quiosque chinês
eu não espero piedade obrigado
 
 
 
antónio josé forte
uma faca nos dentes
parceria a. m . pereira
2003




29 julho 2021

antónio josé forte / os meus aviadores

 
 
No ano primeiro do fim da melancolia
enquanto os dias e as noites se devoram
é por mim que escrevem os aviadores
com a minha letra solitária
sobre a multidão no deserto
 
podem ler quando eu passo
despido de trevas
 
á a caligrafia da serpente
das praias do tempo da minha infância
onde amanhece
quando faço o gesto de matar
 
posso mandar os meus aviadores escrever
quando passarem sobre os Pirenéus
ao lado da fome da multidão no deserto
 
no avião mais alto      que vai explodir
voa a minha angústia
 
podem ver
na linha do horizonte
uma asa de sangue contra o rosto
a minha máscara de amante
de bruços sobre a terra
 
sou eu à espera dos meus aviadores
 
 
 
antónio josé forte
uma faca nos dentes
caligrafia ardente
parceria a. m . pereira
2003





29 novembro 2020

antónio josé forte / um homem

 
 
De repente
como uma flor violenta
um homem com uma bomba à altura do peito
e que chora convulsivamente
um homem belo minúsculo
como uma estrela cadente
e que sangra
como uma estátua jacente
esmagada sob as asas do crepúsculo
um homem com uma bomba
como uma rosa na boca
negra surpreendente
e à espera da festa louca
onde o coração lhe rebente
um homem de face aguda
e uma bomba
cega
surda
muda
 
 
 
antónio josé forte
uma faca nos dentes
parceria a. m. pereira
2003





24 março 2020

antónio josé forte / grande écran


desenho de Aldina


No grande écran
a festa do homem lobo do homem
e a sua mulher de bicicleta
até que um século de furor
abra a cratera donde irrompe o rosto do poeta
as suas mãos borboletas gigantes
os seus pés peixes voadores
a sua boca asa de fogo branco
e outro século
erga a pirâmide de palavras
que se derramem docemente
de anel em anel
até ao último século




antónio josé forte
caligrafia ardente
hiena
1987





08 junho 2017

antónio josé forte / mar de ninguém



No mar de ninguém
o navio fantasma e a sua hélice de sangue
à distância de um tiro
onde é a entrada abrupta dando para o torso adolescente
o de sempre quando é preciso procurar uma passagem
entre fios esticados de garganta a garganta
e um tambor estilhaçado à altura do peito





antónio josé forte
caligrafia ardente
hiena
1987





16 dezembro 2016

antónio josé forte / natal de 1964




Este ano a quadra festiva vai ser melhor do que nunca

no seu centro vai haver
um grande ramo de flores
que é por onde vão entrar
uns atrás dos outros de cabeça para baixo
os rapazes de mais categoria das artes e das letras
uns atrás dos outros de mãos dadas
cantarolando com a boca cheia
e escorregando docemente escorregando
para debaixo da mesa
onde os espera Jesus
para introduzi-los na grande sala de recepção ao vómito

Quanto ao autor destes versos
aguardará um telefonema até ao último momento
mas à cautela e antes que seja tarde
já comprou um cachucho
que mandou fechar à chave no seu cofre-forte



antónio josé forte
uma faca nos dentes
parceria a. m . pereira
2003



16 janeiro 2016

antónio josé forte / poema



Alguma coisa onde tu parada
fosses depois das lágrimas uma ilha
e eu chegasse para dizer-te adeus
de repente na curva de uma estrela

alguma coisa onde a tua mão
escrevesse cartas para chover
e eu partisse a fumar
e o fumo fosse para se ler

alguma coisa onde tu ao norte
beijasses nos olhos os navios
e eu rasgasse o teu retrato
para vê-lo passar na direcção dos rios

alguma coisa onde tu corresses
numa rua com portas para o mar
e eu morresse
para ouvir-te sonhar


antónio josé forte
40 noites de insónia de fogo de dentes numa girândola
implacável e outros poemas
lisboa
1958



30 setembro 2015

antónio josé forte / assinatura



Entre lágrimas de crocodilo
o homem com gestos de lava
que aponta o local do crime
todas as manhãs
e eu despido de rosas
subo a escada de caracol da morte
para ir deixar na tua pele a assinatura bárbara
com a caligrafia trémula todas as manhãs
e todas as noites de terror
entre a música dos astros



antónio josé forte
caligrafia ardente
hiena
1987




04 março 2015

antónio josé forte / ainda não



Ainda não
não há dinheiro para partir de vez
não há espaço demais para ficar
ainda não se pode abrir uma veia
e morrer antes de alguém chegar

ainda não há uma flor na boca
para os poetas que estão aqui de passagem
e outra escarlate na alma
para os postos à margem

ainda não há nada no pulmão direito
ainda não se respira como devia ser
ainda não é por isso que choramos às vezes
e que outras somos heróis a valer

ainda não é a pátria que é uma maçada
nem estar deste lado que custa a cabeça
ainda não há uma escada e outra escada depois
para descer à frente de quem quer que desça

ainda não há camas só para pesadelos
ainda não se ama só no chão
ainda não há uma granada
ainda não há um coração



antónio josé forte
40 noites de insónia de fogo de dentes numa girândola
implacável e outros poemas
lisboa
1958




07 setembro 2014

antónio josé forte / o nome



Veio do outro lado do mar
pronunciado pelo fogo
e jaz nos jardins suspensos sobre a morte
como um vómito do coração
o nome podre de ninguém



antónio josé forte
caligrafia ardente
hiena
1987




20 agosto 2014

antónio josé forte / prefácio



Ao nível do mar
como o nome da flor do vinho
murmurado entre relógios de carvão
escrito devagar na cal do silêncio
como o lençol de púrpura
no peito dos amantes
de costas para a morte
ao nível do mar
como um cardume de palavras cintilantes
no horizonte de cinza e de pavor
como um cavalo branco toda a noite
de estrela para estrela
ao nível do mar
como a flor que se abre na boca dos suicidas
um homem
ferido de morte
vai falar



antónio josé forte
caligrafia ardente
hiena
1987



20 novembro 2013

antónio josé forte / um poema


          Ceux qui lancent les revolutìons sont tonjours les
          cocus de l’Histoire.

          daniel cohn-bendit


Deves ter razão
e certamente a História não demorará a pôr-te os cornos
um corno vermelho e outro corno negro
grande e delirante cornudo
meninotauro bufando
e investindo à altura do sexo
Sou pela razão ardente dos teus cornos!
Pisaste bem o rabo de deus
mordeste bem o pescoço do diálogo
enfiaste admiravelmente bem
primeiro um corno depois o outro
no Cu Pró Ar da politica
que era o que ela estava a pedir
Corno detonador e mais nada já sabes
«porque ninguém representa ninguém»
e «a Poesia deve ser feita por todos»
Dadá cá o teu corno vermelho
Dadá cá o teu corno negro
quero acariciá-los quero vê-los deitar fumo
fumo negro e vermelho
antes do incêndio
onde eles os teus cornos arderão definitivamente
Saúda-te  sussurreaIìsticamente
um homem quase sem esperança de cornos portugueses
não sei se compreendes
Outros antes de ti
mas da mesma família colérica já o tinham dito:
o sono do materialismo dialéctico engendra monstros
donde essa monstruação sagrada
que se farta de sujar lençóis
fizeste bem em pegá-los pelos cornos
e ires estendê-los na torre Eiffel
Ceux qui tricolorent (Pré vert) vão agora vomitar (Misère)
Viva Dany!
Corno-Satã
Marrada na porta do Amanhã!
Cancan cantáridas
nos testículos operários!
Pan Panfleto metido nos ovários!
Puseste de fora as tripas da sociedade capitalista
tiraste a tampa do caldeirão da democracia
mas com o cuidado de uma mão no nariz
e a outra eriçada de flores
tudo isto com a naturalidade da cólera
tu que inventaste
fazendo o pino sobre a pele esticada do tambor de Paris
o Livro das Grandes Excitações
Pseudónimo dos desejos recalcados
analfabeto abecedário revolucionário
que assinaste de corno
o abaixo-assinado pela Revolução
Viva!
Lobisomem (Pravda) que trincaste
pela primeira vez neste século
o clítoris de Paris
e provaste
que a linha do horizonte do futuro
passa pelo umbigo
e a Freud Karl Marx Fourier e Bakunine
chamaste um FIGO!
Viva!
Quando todos julgavam que desta vez era verdade
o bandulho de Breton principiava a apodrecer
e os martelos da arte da democracia e o mais
começavam a pregar sorrateiramente
os pregos da última cena da Viúva Alegre
eis que o bandu1ho como um tremor de terra
arreganha os dentes
Tu Dany que sempre usaste o barrete frígio como preservativo
tu sorriste à dentuça arreganhada
e com teu dedo de bronze escreveste nas paredes
frases inventadas
por exemplo: o poeta devorará o seu poema ou não
— o poeta devorará o poema para haver Revolução
o poema devorará o poeta para não
Fique entendido que te exalto apenas para que ardas
para ao menos sentir nas narinas
o doce novo cheiro do enxofre
que anuncia a Aurora Boreal
e a pólvora no Fígado
Cornúpeto Ímpeto Sinal
Neste momento és apenas um pretexto
para a navalha de barba fechada envergonhada que sou
se abrir razoavelmente agressiva
e talvez nunca mais se fechar vamos Iá ver
porque eu debaixo da gabardine
esta película literária própria para cumprimentar
e receber cumprimentos
eu estou de facto na pele e no osso
relativamente no tutano da esperança
apenas a carne mínima para as noites na cama
esse cordão umbilical que me prende à Revolta
e me exalta no Amor
Porque sei também
há quem espere a visita da liberdade
há quem não espere a visita da liberdade
há quem ponha a liberdade fora de casa
três espécies de gente que há-de ser julgada pela própria
         liberdade
todos pavões das artes e das letras arganazes do jornalismo
tartarugas da política
todos de escadote às costas
para falar de cima pelo funil do diálogo
ir de automóvel urinar ao litoral para ver o pôr-do-sol
todos os que usam o sexo como gravata
e amam de gravata no sexo todos definitivamente avestruzes
Não entro neste tango à meia-luz para não ver o sangue
sou pela patada no sobrado
pela cornada no tecto
sou pelo salto da pantera
e o ódio e o amor raiados de vermelho
Sou pela, mão no martelo
e o martelo contra o espelho.
Sou por ti pelo teu Olho Selvagem
pelo teu esquerdismo de Berro e de Chavelho!
Já o disse uma vez:
pelo meu relógio são horas de matar
de chamar o amor para a mesa dos sanguinários
Estou-me nas tintas
para a pesca à linha das ideias
para a fila dos chapéus alentejanos
em coro desafinando a esperança
Sou talvez um violento
um homem com labaredas à roda da cintura
 e a língua de fora apesar de ranger os dentes
Dany Anti-Suicidado
sei muito bem que também te chamas Rudi e Vietname e Che
         Guevara
e outros nomes mais
e um só nome: Proletariado
Estou farto de fazer tricot com as próprias tripas
de beber e de escrever nos intervalos
de ter por destino fumar cigarros para divertir os pulmões
até que deles saiam serpentinas e pronto
e não é isto que quero
Dany Possesso
Anel Vermelho e Negro
Fogo no Abcesso

Peixe-Dadá na Corrente Quente Surrealista

Até à vista!


antónio josé forte
Grifo
1970



10 junho 2013

antónio josé forte / reservado ao veneno




Hoje é um dia reservado ao veneno
e às pequeninas coisas
teias de aranha filigranas de cólera
restos de pulmão onde corre o marfim
é um dia perfeitamente para cães
alguém deu à manivela para nascer o sol
circular o mau hálito esta cinza nos olhos
alguém que não percebia nada de comércio
lançou no mercado esta ferrugem
hoje não é a mesma coisa
que um búzio para ouvir o coração
não é um dia no seu eixo
não é para pessoas
é um dia ao nível do verniz e dos punhais
e esta noite
uma cratera para boémios
não é uma pátria
não é esta noite que é uma pátria
é um dia a mais ou a menos na alma
como chumbo derretido na garganta
um peixe nos ouvidos
uma zona de lava
hoje é um dia de túneis e alçapões de luxo
com sirenes ao crepúsculo
a trezentos anos do amor a trezentos da morte
a outro dia como este do asfalto e do sangue
hoje não é um dia para fazer a barba
não é um dia para homens
não é para palavras



antónio josé forte
40 noites de insónia de fogo de dentes numa girândola
implacável e outros poemas
lisboa
1958


02 maio 2013

antónio josé forte / lisboa revisitada




Frio frio
como a pedra do rio
- as artes as letras
os cafés do rossio

frio frio
- as mãos
presas à noite por um fio
os amantes ao demónio
anjos e arcanjos ao cio

frio
- a morte
ela e a sua corte
de caudas de pavões
no alto do navio



antónio josé forte
edoi lelia doura
antologia das vozes comunicantes da poesia moderna portuguesa
organizada por herberto helder
assírio & alvim
1985



24 abril 2013

antónio josé forte / excepto tu meu amor excepto tu




MEU AMOR
minha aranha mágica agarrada ao meu peito
cravando as patas aceradas no meu sexo
e a boca na minha boca
conto pelos teus cabelos os anos em que fui criança
marco-os com alfinetes de ouro numa almofada branca
um ano dois anos um século
agora um alfinete na garganta deste pássaro
tão próximo e tão vivo
outro alfinete o último o maior
no meu próprio plexo

MEU AMOR
conto pelos teus cabelos os dias e as noites
e a distância que vai da terra à minha infância
e nenhum avião ainda percorreu
conto as cidades e os povos os vivos e os mortos
e ainda ficam cabelos por contar
anos e anos ficarão por contar


DEFENDE-ME ATÉ QUE EU CONTE
O TEU ÚLTIMO CABELO


antónio josé forte



31 outubro 2012

antónio josé forte / dente por dente





               Outros antes de nós tentaram o mesmo esforço: dente por dente:
  não, nunca olhar de soslaio e manter a cabeça escarlate, o vómito nos
  pulsos por cada noite roubada; nem um minuto para a glória da pele.
  Despertar de lado: olho por olho: conservar a família em respeito, a
  esperança à distância de todas as fomes, o corno de cada dia nos
  intestinos.
  Aos dezoito anos, aos vinte e oito, a vida posta à prova da raiva e do
  amor,
  os olhos postos à prova do nojo. Entrar de costas no festival das letras,
  abrir passagens a golpes de fígado para a saída do escarro. Se não
  temos saúde bastante sejamos pelo menos doentes exemplares.
               Fora do meu reino toda a pobreza, toda a ascese que gane aos
  artelhos dos que rangem os dentes; no meu reino apenas palavras
  provisórias, ódio breve e escarlate. Nem um gesto de paciência: o sonho
  ao nível de todos os perigos. Pelo meu relógio são horas de matar, de
  chamar o amor para a mesa dos sanguinários.
               Dente por dente: a boca no coração do sangue: escolher a tempo a nossa
  morte e amá-la.




antónio josé forte
40 noites de insónia de fogo de dentes numa girândola
implacável e outros poemas
lisboa
1958



27 abril 2012

antónio josé forte / libertação





Descerão por paredes sangrentas
e subirão do asfalto
ganindo com um prego na língua
com os pulsos atados às patas
sobre pulmões raivosos em barcos de esterco
e não olharão nem para baixo nem para o alto
mas para a frente
para o horizonte de fatias vermelhas
e para trás
para os afogados sem mar sem terra natal sem paisagens marinhas
cada um com um buraco em seu peito
esguichando palavras estridentes
descerão atravessando gargantas
e subirão pela espinha a golpes de jejum
descerão empurrando palavras
transportando-as ao pescoço como cintos de salvação
abrindo crateras nas cabeças queridas
e olhos nos olhos dos aflitos
subirão do asfalto
transparentes e feridos
com os olhos nas mãos
a cabeça no sangue
chegarão aos pares ligados pela boca
com um estandarte negro seguro nos dentes
e descerão sempre cada vez mais e cada vez de mais alto
até chegar à orla do inferno chorarem as últimas lágrimas e par-
                                                                     [  tirem de vez.





antónio josé forte
40 noites de insónia de fogo de dentes numa girândola
implacável e outros poemas
lisboa
1958





01 junho 2010

antónio josé forte / a torre de pisa














A torre de Pisa
em Itália
como qualquer torre
não fala


Inclina-se
para a frente
e cumprimenta
a gente


Não é como
a torre de Belém
que não cumprimenta
ninguém









antónio josé forte
uma rosa na tromba de um elefante
desenhos de aldina
parceria a. m. pereira
2001






25 abril 2010

antónio josé forte / desobediência civil











se a preguiça encantadora dos homens
deve acabar a sua obra e a sua língua de fogo
unir os dias e as noites do desejo
então saudemos as grandes afirmações:
«a poesia deve ser feita por todos» e
«a poesia é feita contra todos»

os devoradores de cultura podem sair pela esquerda alta
fiquem os amantes obscuros e o único os raros
todos os nus
porque a língua portuguesa não é a minha pátria
a minha pátria não se escreve com as letras da palavra pátria


Vêde
sobre a coroa de silêncio do vulcão adormecido
uma ave a sua plumagem de cores trémulas
e as asas que escrevem letra a letra o nome definitivo do homem
e no entanto multidões de gnomos
cada qual com o seu estandarte
esperam à entrada dos cemitérios
para saudar o fogo-fátuo


eu passo de bicicleta à velocidade do amor
atravesso a terra de ninguém com um dia de chuva na cabeça
para oferecer aos revoltados












antónio josé forte
uma faca nos dentes
parceria a. m . pereira
2003










25 junho 2009

antónio josé forte / memorial






As tuas mãos que a tua mãe cortou
para exemplo de uma cidade inteira
o teu nome que os teus irmãos gastaram
dia a dia e que por fim morreu
atravessado na tua própria garganta
as tuas pernas os teus cabelos percorridos
rato após rato tantos anos
durante tanta alegria que não era tua
os teus olhos mortos eles também
na primeira ocasião do teu amante
assim como as palavras ainda fumegando docemente
sobre as pedras de silêncio que lhes atiraram para cima
o teu sexo os teus ombros
tudo finalmente soterrado
para descanso de todos
- mesmo dos que estavam ausentes






antónio josé forte
edoi lelia doura
antologia das vozes comunicantes da poesia moderna portuguesa
organizada por herberto helder
assírio & alvim
1985