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06 abril 2023

bob dylan / soprando no vento

 



 
Por quantas estradas tem um homem de andar
Até que se possa chamar-lhe homem?
Sim, e quantos mares tem uma pomba branca de cruzar
Até que durma na areia?
Sim, e quantas vezes devem as balas de canhão voar
Até serem para sempre banidas?
A resposta, meu amigo, está soprando no vento
A resposta está soprando no vento
 
Quantos anos pode uma montanha existir
Até ser levada pelo mar?
Sim, e quantos anos têm algumas pessoas de existir
Até que lhes permitam ser livres?
Sim, e quantas vezes pode um homem virar a cabeça
Fingindo que nada vê?
A resposta, meu amigo, está soprando no vento
A resposta está soprando no vento
 
Quantas vezes tem um homem de erguer o olhar
Até que possa ver o céu?
Sim, e quantos ouvidos deve um homem ter
Até poder ouvir pessoas a gritar?
Sim, e quantas mortes serão precisas até que saiba
Que demasiadas pessoas morreram?
A resposta, meu amigo, está soprando no vento
A resposta está soprando no vento
 
 
 
bob dylan
canções 1962-2001
volume 1 (1962-1973)
the freewheelin
trad. angelina barbosa e pedro serrano
relógio d´água
2008




20 junho 2021

bob dylan / deitei tudo a perder

 
 
Outrora tive-a nos meus braços
Ela disse que ficaria para sempre
Mas eu fui cruel
Tratei-a como um idiota
Deitei tudo a perder
 
Outrora tive montanhas na palma da mão
E rios que aí corriam todos os dias
Devo ter estado louco
Nunca soube o que tinha
Até que deitei tudo a perder
 
O amor é tudo o que existe, faz o mundo girar
O amor e somente o amor, não se pode nega-lo
Não importa o que penses sobre ele
Simplesmente não serás capaz de passar sem ele
Aceita o conselho de alguém que tentou
 
Assim se encontrares alguém que te dê todo o seu amor
Leva-o para o teu coração, não o deixes perder-se
Porque uma coisa é certa
De certeza que ficarás a sofrer
Se o deitares a perder
 
 

bob dylan
canções 1962-2001
volume 1 (1962-1973)
nashville skyline
trad. angelina barbosa e pedro serrano
relógio d´água
2008





 

13 julho 2019

bob dylan / pela quarta vez



Quando ela disse
«Não desperdices as palavras, são só mentiras»
Gritei que era surda
E ela trabalhou-me a face até me amansar os olhos
Depois disse, «Que mais te resta?»
Foi então que me levantei para partir
Mas ela disse, «Não esqueças
Toda a gente deve dar algo em troca
Por algo que recebe»

Fiquei ali em pé e cantarolei baixinho
Dei umas batidas no tambor dela e perguntei-lhe porquê
E ela abotoou a bota
E endireitou o saia-casaco
Depois disse, «Não te armes em engraçadinho»
Então enterrei as minhas mãos nos bolsos
E tacteei com os polegares
E estendi-lhe galantemente
O meu último pedaço de chiclete

Ela pôs-me na rua
Fiquei na sujidade onde toda a gente andava
E depois de me dar conta de que me tinha
Esquecido da camisa
Voltei atrás e bati à porta
Esperei na entrada, ela foi busca-la
E tentei decifrar
Aquela fotografia tua na cadeira de rodas
Que estava encostada contra…

O seu rum jamaicano
E quando ela chegou, pedi-lhe um pouco
Ela disse, «Não, querido»
Eu disse, «As tuas palavras não são claras
Era melhor cuspires o chiclete»

Gritou até a cara lhe ficar toda vermelha
Depois caiu no chão
E eu tapei-a e então
Pensei ir dar uma vista de olhos à gaveta dela

E quando terminei
Enchi o meu sapato
E levei-o até ti
E tu, tu levaste-me para dentro
Amaste-me então
Não perdeste tempo
E eu, eu nunca tomei demasiado
Nunca pedi tua muleta
Agora não peças a minha



bob dylan
canções 1962-2001
volume 1 (1962-1973)
blonde on blonde
trad. angelina barbosa e pedro serrano
relógio d´água
2008






18 julho 2018

bob dylan / acho que estou a sair-me bem




Bem, não tenho a minha infância
Ou os amigos que outrora conheci
Não, não tenho a minha infância
Ou os amigos que outrora conheci
Mas ainda me resta a minha voz
Posso levá-la onde quer que vá
Ei, ei, portanto acho que estou a sair-me bem

E nunca tive muito dinheiro
Mas seja como for ainda ando por aqui
Não, nunca tive muito dinheiro
Mas seja como for ainda ando por aqui
Muitas vezes me dobrei
Mas ainda nunca me submeti
Ei, ei, portanto acho que estou a siar-me bem

Infortúnio, oh infortúnio
Tenho infortúnio na mente
Infortúnio, oh infortúnio
Tenho infortúnio na mente
Mas o infortúnio do mundo, Senhor
É muito maior do que o meu
Ei, ei, portanto acho que estou a sair-me bem

E nunca tive exércitos nenhuns
A saltar às minhas ordens
Não, não tenho exércitos
A saltar às minhas ordens
Mas não preciso de exércitos nenhuns
Arranjei um bom amigo
Ei, ei, portanto acho que estou a sair-me bem

Têm-me dado pontapés e chicoteado e espezinhado
Têm tentado atingir-me tal como a ti
Têm-me dado pontapés e chicoteado e espezinhado
Têm tentado atingir-me tal como a ti
Mas enquanto o mundo continuar a rodar
Eu simplesmente também continuo a rodar
Ei, ei, portanto acho que estou a sair-me bem

Bem, a minha estrada pode estar cheia de pedras
As pedras podem ferir-me o rosto
A minha estrada ela pode estar cheia de pedras
As pedras podem ferir-me o rosto
Mas como algumas pessoas não têm estrada nenhuma
Têm de ficar no velho sítio do costume
Ei, ei, portanto acho que estou a sair-me bem





bob dylan
canções 1962-2001
volume 1 (1962-1973)
the times they are a-changin’
trad. angelina barbosa e pedro serrano
relógio d´água
2008








15 janeiro 2018

bob dylan / confia em ti



Confia em ti
Confia em ti para fazer as coisas que só tu é que sabes
Confia em ti
Confia em ti para fazeres o que está certo e não seres criticada
Não confies em mim para te mostrar a beleza
Quando a beleza só se pode volver em ferrugem
Se precisas de alguém em quem confiar, confia em ti

Confia em ti
Confia em ti para saber o caminho que no fim se revelará o verdadeiro
Confia em ti
Confia em ti para encontrar a via onde não há se nem quando
Não confies em mim para te mostrar a verdade
Quando a verdade pode não passar de cinza e pó
Se queres alguém em quem confiar, confia em ti

Bem, estás por tua conta, sempre estiveste
Numa terra de lobos e ladrões
Não deposites a tua esperança num homem ímpio
Nem sejas escrava daquilo em que os outros acreditam

Confia em ti
E não ficarás desapontada quando gente vã te desiludir
Confia em ti
E não procures respostas onde não se encontram respostas
Não confies em mim para te mostrar o amor
Quando o meu amor pode não passar de luxúria
Se queres alguém em quem confiar, confia em ti



bob dylan
canções 1962-2001
volume 2 (1974-2001)
empire burlesque
trad. angelina barbosa e pedro serrano
relógio d´água
2008






25 outubro 2017

bob dylan / sonhei que vi st.º agostinho



Sonhei que vi St.º Agostinho
Tão vivo como tu e eu
Irrompendo por esses bairros
Na mais extrema miséria
Com uma manta debaixo do braço
E uma capa de ouro maciço
À procura das próprias almas
Que já foram vendidas

«Erguei-vos, erguei-vos,» gritou alto
Numa voz sem freio
«Saí, ó prendados reis e rainhas
E ouvi o meu triste lamento
Não está agora entre vós nenhum mártir
A quem possais chamar vosso
Segui então o vosso caminho e acordo com isso
Mas sabei que não estais sós»

Sonhei que vi St.º Agostinho
Vivo com fôlego ardente
E sonhei que estava entre aqueles
Que o abandonaram à morte
Oh, acordei enfurecido
Tão só e aterrorizado
Espalmei as mãos contra o vidro
E curvei a cabeça e chorei




bob dylan
canções 1962-2001
volume 1 (1962-1973)
john wesley harding
trad. angelina barbosa e pedro serrano
relógio d´água
2008








09 setembro 2017

bob dylan / a tentar chegar ao céu



O ar está a ficar mais quente
Há um ressoar nos céus
Venho a atravessar a água profunda e lamacenta
Com o ardor a aumentar nos meus olhos
A cada dia a tua recordação fica mais ténue
Já não me persegue como outrora
Venho a passar pelo meio de nenhures
A tentar chegar ao céu antes que fechem a porta

Quando estava no Missouri
Não me deixavam em paz
Tive de ir embora à pressa
Só vi o que me deixaram ver
Partiste um coração que te amava
Agora podes fechar bem o livro e não escrever mais
Venho por esse vale ermo
A tentar chegar ao céu antes que fechem a porta

As pessoas na gare
À espera dos comboios
Consigo ouvir o bater dos seus corações
Como pêndulos a baloiçar em correntes
Quando se pensa que se perdeu tudo
Descobre-se que se pode sempre perder mais um pouco
Vou estrada abaixo sentindo-me mal
A tentar chegar ao céu antes que fechem a porta

Vou rio abaixo
Até Nova Orleães
Dizem-me que vai estar tudo bem
Mas nem sequer sei o que é que «bem» significa
Ia numa caleche com a Menina Mary-Jane
A Menina Mary-Jane tem uma casa em Baltimore
Rapazes, andei pelo mundo todo
Agora estou a tentar chegar ao céu antes que fechem a porta

Vou dormir na sala de estar
E reviver os meus sonhos
Fecharei os olhos e pergunto-me
Se tudo é tão oco como parece
Alguns comboios não atraem jogadores,
Nem vagabundos da noite como outrora
Estive em Sugar Town, sacudi o açúcar
Agora estou a tentar chegar ao céu antes que fechem a porta




bob dylan
canções 1962-2001
volume 2 (1974-2001)
time out of mind
trad. angelina barbosa e pedro serrano
relógio d´água
2008